segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

mais do mesmo


São os casos do “furo” que revelou para o país a existência de uma filha de Lula, Lurian; da entrevista com o economista Paulo de Tarso Venceslau, no chamado “caso Cpem”; do empréstimo que cinco deputados federais do PT tomaram do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, sob a batuta de um colega parlamentar que confessou corrupção; e da reportagem que derrubou uma parte de versão do hoje presidente da República para a compra do apartamento em que mora, em São Bernardo do Campo.

Entre 1984 e 2005, Luiz Maklouf Carvalho acompanhou Lula, Palocci, Okamoto, José Genoino, Delúbio, Celso Daniel, José Dirceu... não é verdade que eles pisaram na bola só quando chegaram ao poder, isso começou bem antes.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

A pílula



Cada vez que tomo a pílula não sinto nada. O efeito não vem nem depois de que a droga passa para a corrente sangüínea. Mas me garantiram que essa não é uma pílula de farinha, há uma química nela. Não ligo, o importante é que estão me pagando.

Escrevo isso para passar o tempo. É muito chato ficar presa dentro dessa casa. Já faz 13 dias. Não tenho muito o que fazer, a comida vem pronta, as roupas são mudadas todo dia, enfim, tudo o que eu preciso é colocado numa porta giratória. Tenho uma TV, mas é um circuito fechado que só passa filmes antigos, sem cores. Ainda bem que não sou obrigada a ver.

Acho que nunca aceitaria viver aqui sem a grana. A Luísa me convenceu. Depois de tanto tempo sem ver ela, resolvi acreditar que o dinheiro era fácil. Ela estava certa, todo o dia antes das entrevistas eles me mostram os recibos dos depósitos.

Posso usar o dinheiro para viajar. De quem sinto mais saudade aqui? É lógico que é você, Alice. Pena que você nunca mais vai querer olhar na minha cara. Se não fosse isso já teria saído dessa casa. Você acabou comigo, linda. Mas pelo menos vou ficar rica. O melhor mesmo é ir para longe. Um lugar para ficar quieta e te esquecer.

Só que aqui não vou conseguir. Esse médico só faz perguntas do que eu vivi, faz questão de detalhes. Essa semana percebi que conto coisas para ele que nunca contaria a ninguém. No contrato que assinei esse lugar se compromete a nunca divulgar meu nome, talvez seja isso.

Quando tinha 16 anos me deu vontade de brincar com uma garrafa. Era uma fanta, só que antes de enfiar eu quis beber. Como fui burra! O ar da garrafa prendeu ela dentro de mim. Meus pais tentaram arrancar mas doía muito, eu gritava. Como o resto da minha família, eu já era peluda naquela época. Os pêlos pubianos ficaram presos e cada vez que puxavam era uma dor horrível. Meu pai queria puxar até arrancar, mas minha mãe implorou para ele chamar um médico, que só conseguiu tirar depois de serrar o vidro.

É claro que todo mundo ficou sabendo na rua e na escola. Os meninos passaram a andar com uma garrafa de fanta na mochila e quando me viam sempre me perguntavam rindo se eu queria usar. Até minhas amigas queriam saber se minha boceta tinha ficado larga. Eu queria morrer. Foi o que contei ontem na entrevista.

Sempre tive dificuldade de falar sobre tudo que possa ser relacionado com sexo. Aqui aprendi aqui a contar tudo o que me envergonha ou me magoou. Mas não me sinto melhor com isso, continuo sentindo vergonha e mágoa do mesmo jeito. Quem disse que falar a verdade faz bem? Só espero juntar dinheiro com isso, quando sair sei que as coisas vão ser iguais.

- Então esse paciente chegou num estágio tão avançado da mitomania que mentia para todos ser mulher e inventava coisas até escrevendo?

- Sim, a droga só conseguiu fazer parar a depressão. Um dia trouxemos essa Alice aqui. A princípio ele reagiu bem, mas gritou quando ela lhe chamou de mentiroso. Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano! – ele gritou várias vezes.

- O que aconteceu com ele?

- Praticamente não reagiu aos tratamentos. Está internado aqui há seis anos e pensa estar juntando uma bolada. Por enquanto, essa é a única vida em que ele já se ajustou.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

iraque? guerra civil? não, é só o rio de janeiro, mané!

Só nos 12 primeiros dias de fevereiro

120

pessoas morreram assassinadas no Rio de Janeiro. Foram

10

homicídios por dia.

O que significa

1

homicídio a cada 2 horas e 24 minutos.

Essa chaga carioca e brasileira vai até onde?


domingo, 11 de fevereiro de 2007

nanosonhos


Ainda não sabemos se a ciência vai salvar a humanidade, mas seus cabelos, quanta diferença!
De bobeira na rua, vi um salão de beleza que oferece um tratamento de nanoqueratinização. Logo pensei que isso na verdade fosse mais nanopicaretagem, aproveitando essa onda da nanotecnologia.
Pesquisei um pouco na internet sobre isso e parece que isso é sério mesmo... é uma espécie de técnica que transforma a queratina em moléculas que aderem nas falhas do cabelo. Agora se funciona não tenho idéia.
A unidade de medida nano vale um milésimo de milionésimo. A primeira vez que li sobre essa tecnologia foi num texto que falava nas possibilidades de serem criados robôs para entrarem no corpo humano para realizarem cirurgias. Como naqueles filmes que encolhem as pessoas (Viagem Fantástica/Viagem Insólita) e as colocam em naves que circulam no sistema sangüíneo.
Esses robozinhos seriam construídos a partir da manipulação de átomos e teriam usos os mais variados, importantes e nem tanto, possíveis: medicina, eletrônica, ciência da computação, física, química, biologia, engenharia dos materiais, cosméticos, tecidos que não amassam etc.
Foi em 1959 que o físico americano Richard Feynman anunciou ao mundo a idéia de manipulação da matéria em escala atômica e hoje, como descobri, já existe até em salão de cabeleireiro.
Hoje outro maluco americano, Eric Drexler, pensa formas de construir esses robozinhos. Daqui 20, 100, 1.000 anos, ele diz ser possível inventar o Manipulador Universal, uma máquina para manipular átomos e construir qualquer outra imaginada pela mente humana e a possibilidade de regeneração celular com a nanotecnologia que decretaria o fim do envelhecimento.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O filme é uma merda, mas o diretor é genial

Essa frase que o Paulo Francis criou para definir o Cinema Novo também é boa para o diretor Nilson Primitivo. Li sobre ele em uma entrevista no Overmundo. Seus filmes são altamente experimentais: geralmente são curtas em 16 mm, com fotografia quase sempre P&B carregada nas sombras, com negativos sujos, roteiros absurdos, trilha sonora desconexa com as imagens, narrações malucas, tudo orgânico, primitivo mesmo.
Sem dúvida para quem está acostumado com o cinema convencional sua obra parece um lixo, mas sem dúvida também que são essas pessoas que mostram as novas possibilidades para a arte. O Cinema Novo era isso, filmes super baratos, feios mesmo, mas com muita criatividade e que moldaram uma época.
O Nilson também é parceiro do Rodrigo Amarante do Los Hermanos. Ele atua como ator, produtor e roteirista de vários filmes dele. Em parceria dirigiram "Dupla Face", 16mm que originou o clipe de Sentimental.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

exílio


Primeiro capítulo do livro que conta como foi o exílio na África de Jean Nicholas-Arthur Rimbaud.

mais um defunto que faz falta

Da série interminável de homenagens aos aniversários dos mortos, afinal brasileiro só fala bem de fulano quando ele abotoa o paletó de madeira, aí vão momentos especiais de Franz Paulo Trannin da Matta Heilborn (1930-1997). o cara era foda.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

outro que faz falta...

Francisco de Assis França (13/3/1966 - 2/2/1997)

Caranguejos com Cérebro

Mangue, o conceito
Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.

Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.

Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown, a cidade
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade “maurícia” passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.

Em contrapartida, o desvario irresistível de uma cínica noção de “progresso”, que elevou a cidade ao posto de “metrópole” do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.

Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada à permanência do mito da “metrópole” só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.

Mangue, a cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.

Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um “circuito energético”, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.

Hoje, os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.

Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown. (Fred 04)

In memoriam - Momofuku Ando (1910-2007)


miojo

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

DOS MUNDOS

Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

Mario Quintana - Espelho Mágico