quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Após as urnas, a reforma tributária


A tão pedida e esperada reforma tributária pode sair ainda este ano, pelo menos foi o que disse ontem em São Paulo o ministro da Fazenda Guido Mantega.
Ele participou do Seminário “O papel da indústria no crescimento do Brasil”, realizado na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). “É possível fazer a reforma tributária no que diz respeito ao ICMS e acabar com a guerra fiscal entre os estados”, afirmou durante o seminário.
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) representa em média 83% da arrecadação dos estados, é o imposto chave de qualquer reforma. De janeiro até o mês passado, São Paulo arrecadou R$ 59,5 bilhões de ICMS de um total de R$ 69,8 bilhões de receita tributária, ou seja, 85% de todos os impostos.
Na guerra fiscal, por falta de uma única legislação, os estados “brigam” entre si reduzindo as alíquotas de ICMS para atrair determinadas indústrias ou setores produtivos, com a justificativa de que eles estão perdendo suas empresas e seus empregos.
Hoje existem estados que até oferecem incentivos fiscais para produtos importados, como Espírito Santo e Santa Catarina. O governo paulista reclama  que a  guerra fiscal prejudica o estado e faz com que o produtor nacional pague mais impostos do que o fabricante estrangeiro. Mas claro, outros estados também se queixam da postura semelhante a de São Paulo.
Ontem, Guido Mantega disse que seu projeto é reduzir as alíquotas interestaduais, dando uma compensação para os estados que vão abrir mão da guerra fiscal.
Folha /O ministro também ressaltou na Fiesp que está em estudo a desoneração da folha de pagamentos, detalhe em que, segundo Guido Mantega, o Brasil fica em desvantagem frente a outros países, um dos ingredientes do chamado “custo Brasil” que prejudica a competição. “Na reforma tributária está prevista a redução de 6 pontos percentuais na contribuição previdenciária patronal, que hoje é de 20%”, disse.
Além disso, o governo admite que a devolução de créditos no Brasil é bastante lenta e, por isso, pretende rever a política a esse respeito.
Em relação a investimentos, o ministro afirma que o objetivo é desonerá-los completamente, para aumentar a competitividade do país. “Mas sempre mantendo o equilíbrio fiscal. Às vezes não dá para fazer com mais velocidade para não desequilibrar a equação fiscal”, afirmou Mantega.
Opinião
Amir Khair,
Mestre em finanças públicas pela FGV e consultor
Mudanças já viraram um Frankenstein
 Várias vezes já se tentou no país uma reforma tributária. Mas todas as vezes que o Executivo manda a proposta para o Legislativo os governadores e prefeitos reclamam. Seus secretários da Fazenda calculam o prejuízo que terão e sempre reclamam.
Os governadores no passado já convocaram suas bancadas na Câmara e Senado e encheram de emendas as propostas de reforma tributária. As mudanças acabaram virando um Frankenstein, sem benefícios para a população.
Outro problema sério é que a União não tem condição de criar um fundo de compensação para os estados aceitarem uma reforma justa. O governo federal teria que dar uma grande compensação para os estados, mas não tem cacife para isso. A União paga muito pelos juros da dívida pública, por isso é deficitária em suas contas. Cerca de  5,4% do PIB (Produto Interno Bruto) vai para os juros da dívida. A solução é reduzir os juros. A situação dos impostos hoje é muito grave.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O grande gozador

"Uma forma de encarar a fala humana
é a de considerá-la como um constante
estratagema para cobrir nossa nudez."
(Harold Pinter - 1930-2008)


       Dois homens presos num quarto de hotel. Os dois não são amigos, são empregados de uma organização. Eles apenas aguardam o momento de realizar seu serviço. Enquanto esperam, convivem com o tédio, a tensão e a dúvida. Vão matar alguma pessoa, pois esse é o trabalho deles, são assassinos profissionais. Esta é a trama de uma comédia, mas uma comédia sinistra.

       Nos dias 15 e 16 de junho o Teatro Municipal de Bauru recebeu a peça "O Monta Cargas" (The Dumb Waiter), do genial dramaturgo inglês Harold Pinter. Os dois "matadores" que visitaram a cidade foram os grandes atores Rubens de Falco e Kito Junqueira. A tradução e a direção ficaram a cargo de Alexandre Tenório, que há pelo menos 30 anos estuda e trabalha com o autor - já traduziu oito peças de Pinter.

       Ben, o matador mais velho, acostumado e resignado com seu serviço, é interpretado por Rubens de Falco. Não poderia deixar de ser. São 51 anos de carreira no teatro, cinema e televisão, sendo que nesta última ele foi Leôncio, o maior galã/vilão dos anos 70 na telenovela brasileira "Escrava Isaura", depois um sucesso no mundo inteiro. Nos anos 60, Falco já havia interpretado Pinter na montagem de "A Coleção" (The Collection), sob a direção de Flávio Rangel.

       Gus, o mais moço, sem tanta experiência, e que pergunta demais, é feito por Kito Junqueira, que também é o produtor do espetáculo. A carapuça de questionador lhe serve. Seu trabalho mais famoso é polêmico e aclamado: "Bent" (1982), de Martin Sherman, conta a história de um homossexual num campo de concentração nazista. Lhe valeu os prêmios da Associação Paulista dos Críticos de Artes de ator e produtor, e a indicação para melhor ator no Molière. Fora da dramaturgia, ele foi deputado estadual pelo Partido Verde em São Paulo entre 1994 e 1998. Esteve ainda em mais de 15 telenovelas, entre elas "Por Amor", "Vereda Tropical" e "Pantanal". Em 25 anos de carreira, esta é a primeira vez que interpreta Pinter.

       O "Monta Cargas" (nome dado aos elevadores de cargas em hotéis e restaurantes, e que faz parte do cenário e trama, daí o nome) é uma peça onde estão presentes várias das características do teatro de Pinter: diálogos ágeis e exatos; a precisão para detalhar os mais ridículos, irrelevantes e superficiais aspectos do cotidiano; o sentimento angustiante de que a vida é controlada por forças incontroláveis e invisíveis; e perguntas, várias perguntas, a maioria sem respostas.

       Diferente do teatro do absurdo, Pinter não cria situações inusitadas, porém parte do mais absoluto realismo para atingir o absurdo. Os dois personagens que dividem um quarto de um hotel decadente em Birmingham, Inglaterra, são assassinos, porém retratados pelo autor de uma forma tão comum que automaticamente nos identificamos com eles. E rimos deles. Pinter mostra situações engraçadas com um alto teor de contra-senso, mas ao mesmo tempo hiper-reais, que poderiam se encaixar em qualquer relação humana. Ou seja, ele faz uma gozação de nós mesmos.

       Uma das disputas mais hilariantes entre Ben e Gus é para decidir qual a maneira certa de dizer: acender uma chaleira, ou pôr a chaleira no fogo. Algo banalíssimo, mas que faz os dois quase trocarem socos.


Um escritor da periferia de Londres


       Harold Pinter nasceu em 10 de outubro de 1930 na zona mais pobre de Londres: o East End. Era de uma família bastante modesta, seu pai era alfaiate, e jamais freqüentou uma universidade. Conviveu na infância e adolescência com operários, pequenos comerciantes, cozinheiros italianos, pequenos marginais, enfim, toda uma gama de gente que leva uma vida muito difícil e verdadeira, como os seus personagens.

       O jovem Pinter era leitor de Joyce, Kafka, Dostoievski, Eliot e Pound, além de um fã de filmes de gângsters. Com dezoito anos se negou a fazer o serviço militar. Nessa época já decidira torna-se ator. Viajou com algumas companhias de teatro, mas para conseguir sobreviver fazia alguns bicos paralelos: garçom, porteiro em night-clubs, lavador de pratos e vendedor de enciclopédias.

       Em 1957, uma das suas amizades no meio teatral, Henry Woolf, diretor de um grupo amador da Universidade de Bristol, pediu que ele escreve-se uma peça, pois Pinter já havia escrito anteriormente alguns esboços. Surgiu então "O Quarto" (The Room), sua primeira peça. No mesmo ano, foi a vez de "O Monta Cargas". No ano seguinte, "A Festa de Aniversário" (The Birthday Party), e no posterior seu primeiro trabalho para o rádio, "Um Ligeiro Mal-Estar" (A Slight Ache). Em 1960, escreveu uma peça chamada "O Inoportuno" (The Caretaker), que depois seria adaptada por ele mesmo para a TV e o cinema. E continuou nesse ritmo: até hoje, Pinter escreveu 32 peças de teatro e 22 roteiros para o cinema, entre eles o de "O Último Magnata" (The Last Tycoon, 1977), e "A Mulher do Tenente Francês" (The French Lieutenant's Woman,1981).

       Algo que une os vários trabalhos Pinter é a linguagem: um diálogo natural, muitas vezes cômico e irônico, cheio de expressões populares, usado por seus personagens não só para se comunicar, mas também para se atacar e se defender, às vezes até não realizando comunicação nenhuma. O que importa é lutar contra a realidade que massacra a todos, mesmo que ao mesmo tempo optemos também por mascará-la ou escondê-la.

       Site oficial do autor: http://www.haroldpinter.org/



       O Bazarcultura participou de uma entrevista coletiva com os atores Rubens de Falco e Kito Junqueira. Eles falaram de suas carreiras, o teatro de Harold Pinter, e sobre o espetáculo "O Monta Cargas":


Bazarcultura - Os personagens da peça estão isolados num lugar, obedecendo ordens de um patrão sem rosto e esperando outras. Essa situação de tensão e rotina é muito comum nas relações humanas. Vários dramaturgos e escritores tratam desses pequenos absurdos cotidianos. Quais as particularidades do texto de Pinter?
Rubens de Falco - Ele trata realmente dos absurdos cotidianos. No caso específico de "O Monta Cargas", são dois profissionais que não se incomodam com mais nada, a não ser com aquilo que têm de fazer. Esses dois personagens não são amigos, são companheiros de trabalho, eles não têm intimidade nenhuma, e isso acontece em toda relação profissional, em qualquer canto. O Pinter mostra isso com um espírito muito elevado, isto é, o Pinter está muito acima destes dois personagens, então ele pode comentá-los de uma forma muito livre. Na peça, o Ben é um homem mais velho cuja vidinha deve ser uma tristeza, ele já está no ocaso de sua carreira de matador profissional. Ele diz que trabalha com madeiras e deve ter em casa uma mulherzinha muito chata, dois, três filhos. E o Gus é mais instigante, é jovem ainda, ele quer saber das coisas, só que ele sabe demais. A relação dois não é fácil, mas eles continuam, têm que cumprir a ordem e mais nada.
Kito Junqueira - O que eu também acho muito interessante é a relação de muita clareza que o Pinter tem com a vida, da manipulação que o sistema faz em relação ao homem. Você o tempo todo obedece ordens, é altamente manipulado, e quando questiona alguma coisa tem que pagar um preço muito alto por esse questionamento. Essa é uma visão do Pinter absolutamente moderna, apesar de ele ter escrito a peça nos anos 50. Hoje nós estamos vendo que a mídia de uma certa forma manipula mesmo, ela aliena, todo um processo de banalização da vida. O Pinter de uma certa maneira mostra isso através desses dois personagens, dois assassinos profissionais que teoricamente ou hipoteticamente seriam personagens extremamente fortes, e na realidade ele mostra a fragilidade dos dois, que apesar de terem, digamos assim, a arrogância, o poder de decidir sobre a vida e a morte, o quanto eles também estão submissos a um poder maior, ao ponto de talvez também serem eliminados.

Pergunta - Dentro do cenário existe a pontuação do pequeno elevador de cargas, que dá nome ao espetáculo e é quase um terceiro personagem. Gostaria que vocês falassem desse artifício.
Junqueira - A única relação que eles têm com o mundo externo é através desse elevador que chama monta cargas, que é aquele elevador em que são colocadas as comidas nos restaurantes e hotéis e que sobe de um andar para outro. Chama-se monta cargas mesmo, a gente até não sabia, descobrimos depois. Então, eles têm um contato com o mundo externo, nessa situação em que estão, através do monta cargas. É muito interessante, é um terceiro personagem em cena porque ele tem uma participação impressionante, até porque inicialmente o público fica muito assustado. Até na sua trilha sonora de entrada que é feita propositadamente para isso. É uma relação que se estabelece com um elemento inanimado mas ao mesmo tempo de uma vida enorme, principalmente para os dois.

Pergunta - Kito, quais são as maiores dificuldades para um ator que também atua como produtor no Brasil de hoje?
Junqueira - Nós ainda temos uma política cultural dentro desse país muito retrograda. Houve uma época em que era mais fácil produzir, mais fácil atuar. Acho que é um momento de uma grande turbulência, você precisa ser muito corajoso, mas não pode deixar de maneira alguma de investir na tua carreira e ter a pretensão de ser um ponto referencial, e mostrar para a população, para o público de uma forma geral, que a arte é dimensionada, não é apenas uma comédia, um drama ou uma tragédia. É fundamental, nesse momento que eu acho de turbulência, onde a mediocridade campeia em vários setores, é muito importante você trazer um espetáculo da mais alta qualidade, com profissionais de ponta, essa coisa toda.
       Entretanto, é muito difícil. A lei Roaunet, por exemplo, é uma boa lei mas ainda tem muitos furos. Também a cultura do empresariado brasileiro, diferentemente do que ele faz na Europa ou nos EUA, que praticamente são as mesmas empresas, no Brasil ainda existe uma certa dificuldade em se investir em arte como um todo, ainda não se conscientizaram que a arte na realidade é o grande embaixador de um país. Então, a gente encontra inúmeras dificuldades, mas isso só serve de estímulo para que continuemos na nossa estrada e fazer alguma coisa bastante produtiva.

Pergunta - Kito, você fez uma peça de bastante sucesso nos EUA chamada "Bent" (de Martin Sherman), que é uma gíria inglesa que significa veado, e depois você dirigiu "Full House" (de Gordon Osmond). Gostaria que você comentasse esses dois trabalhos fora do Brasil.
Junqueira - Na realidade, o "Bent" foi um sucesso não só nos EUA mas em todo o mundo. Eu produzi a peça também. Quando nós trouxemos o "Bent" (1982) para o Brasil, ele estava proibido na América do Sul inteira, era uma época de ditadura militar em toda a região. Foi liberado no Brasil, e trouxemos o autor da peça para assistir, o Martin Sherman, que achou o meu trabalho naquele momento o melhor que ele tinha visto no mundo. Fui então convidado para fazer o filme, isso que me levou aos EUA, saí daqui contratado. "Bent" fala de um homossexual preso num campo de concentração nazista, e foi muito interessante porque esse papel foi feito na Broadway dois anos antes pelo Richard Gere, e na Inglaterra pelo Ian McEwan, que foi até indicado para os dois últimos Oscar, dois excepcionais atores. A peça fez um grande sucesso no mundo todo, e nos países que o papel principal foi feito por heterossexuais é que ela fez um grande sucesso. Foi muito interessante ter descoberto isso porque descobrimos que o homossexual critica o homossexual, e o hetero não critica, ele faz. Foi um espetáculo de muito sucesso, uma "mosca branca" dentro do teatro brasileiro, nós ganhamos naquele ano todos os prêmios, melhor ator, melhor figurino, melhor espetáculo, enfim, tudo o que a gente podia levar de prêmios, e isso me levou aos EUA.
       Quando eu estava estudando na Universidade de Nova Iorque, e fui contrato pela Fox Television, na época para ser diretor de programação de eventos especiais da Fox, eu recebi um convite do Gordon Osmond, que é um advogado, foi meu advogado nos EUA, mas também é um grande autor americano apaixonado por teatro, e ele me convidou para dirigir uma peça dele. Inicialmente, ele me convidou para ser um ator na peça, eu não me achava pronto ainda com meu inglês e fui dirigir o "Full House" e correr todo o circuito universitário dos EUA, costa à costa, que é um circuito muito forte, descobri isso, porque as apresentações teatrais nas universidades, nas suas respectivas cidades e estados, são muito freqüentadas tanto pelos seus alunos, como também pelos seus familiares. Você tem teatro lotado o tempo todo, não é cobrado o mesmo preço da Broadway, é uma média de 15, 20 dólares, você faz um espetáculo para milhares de pessoas, é muito forte.
       Depois, assinei um contrato com a Character, que é a maior home video do mundo, com sede em Londres, e a Egonyan Productions, que é a sucursal deles em Nova Iorque, para fazer cinco filmes, um deles inclusive com o Anthony Quinn. Eu acabei não podendo fazer, um para a HBO, uma minissérie e mais outros três filmes. A propósito, um filme que foi feito com muito sucesso, o "House of Cards" (1993), que o Tommy Lee Jones acabou fazendo com a Kathleen Turner, eu faria o terceiro papel. Mas eu tive alguns problemas no Brasil, de ordem pessoal, e tive de retornar para o Brasil, onde estou feliz. Foi uma passagem muito forte, dois anos e meio, muito produtiva para minha vida, com visibilidade, com crescimento.

Bazarcultura - E a respeito da sua passagem pela política (deputado estadual/SP pelo PV entre 1994 e 1998), o que você tem a dizer?
Junqueira - Eu aprendi muito na política. A política te dá uma visibilidade muito grande. Você, como em todas as profissões, tem o seu lado altamente enriquecedor e altamente frustrante. Claro que a política no Brasil hoje é muito frustrante, porque você ainda não consegue idealizar os seus projetos e realizá-los, depende de uma série de conjunturas, de um poder que está absolutamente apodrecido, essa política do "toma lá, dá cá". Isso foi o que me afastou da política, mas é uma grande escola de vida. Infelizmente, nesse momento essas práticas não têm nenhum resultado para a comunidade, eu acho que posso servi-la muito melhor sendo ator e fazendo meus trabalhos sociais, do que como político fazendo uma política partidária, antiga, rançosa, em que eu me sentia muito amarrado, porque sempre gostei muito de ser independente. Ir lá para agradar A ou B eu não sei, muito menos o Executivo, e o parlamentar hoje no Brasil nada mais é do que um despachante de luxo. Você vota a favor do presidente ou do governador, então você tem uma verba X de orçamento para você realizar suas obras. Se você votar contra é cortado. Não é a comunidade, não é a vida da população que importa hoje na política. Eu diria que 20% trabalha e 80% é corrupto, só corre atrás de dinheiro e não quer nem saber.

Bazarcultura - Bom, parece que você nunca mais vai voltar para a política...
Junqueira - Não, eu até posso voltar, mas eu sou muito favorável, por exemplo, a um regime parlamentarista, que é aonde você cria inclusive uma dinâmica muito maior, e não dá a estabilidade de um Executivo, o poder do Presidente que sobe na caneta. Você vê o caso da CPMF, por exemplo, foi aprovada no Congresso, rasgaram a Constituição em vez de cumprir o prazo normal que ela prevê de 90 dias, entra em vigor a partir de um decreto publicado no Diário Oficial. Quando você tem um movimento parlamentarista num país, se a comunidade aperta os seus parlamentares, ela tem o poder de tirar o Primeiro-ministro de lá e colocar outro. Então, eu acho que essa turbulência política, esse problema social, esse problema de violência que nós estamos vivendo no nosso país, é porque nós temos políticos altamente despreparados, corruptos, muitos comprometidos com o crime e que estão lá dentro sendo financiados e tudo mais. Eu voltaria para a política sim, mas de uma outra maneira, não da forma corrupta que está aí.

Bazarcultura - A propósito desse assunto, o Pinter, a partir da década de 80, tem abordado temas mais políticos em suas peças.
Junqueira - Eu li a última dele, "Celebration", que é muito interessante. Mas na realidade o Pinter tem uma visão bem inglesa, ele vive lá, então tem uma visão de mundo ao lado da Rainha (risos), uma visão que para nós têm uma certa dificuldade, porque vivemos um problema social intenso, não que a Inglaterra não tenha os seus problemas, mas eles já adquiriram uma educação, uma cidadania, que lamentavelmente ainda não temos. Assim, ele pode se dar ao luxo de ter uma visão até mais sofisticada de todo um processo sócio-político-econômico.

Pergunta - Rubens de Falco, a novela "Escrava Isaura" é uma marca registrada na sua carreira, até internacionalmente...
Falco - É o meu carma (risos).
Pergunta - Fale um pouco disso, isso é bom, isso é mal? O Leôncio te escravizou também?
Falco - Eu acho que é muito bom, há um momento na sua carreira em que você atinge um ponto e você deve tentar conservá-lo até achar que pode continuar ou não. Me aconteceu isso, eu fiz muita novela, fiz muita coisa. O Leôncio talvez não tenha sido a melhor coisa que eu fiz, eu acho que fiz melhores papéis, é que o Leôncio tinha a marca do folhetim, do grande folhetim - o vermelho é vermelho, o preto é preto, o amarelo é amarelo, o azul é azul - quer dizer, não tem nuance nenhuma. Ele virou o grande vilão da história da televisão brasileira, porque ele era muito mal, mas ao mesmo tempo muito fascinante, e tinha aquela coisa do amor possessivo por aquele menina, que cativava muito, esse lado cativava as mulheres, e o lado mal cativava os homens. Eu acho que o sucesso da novela é uma coisa que para nós ainda não é compreensível, para todo o elenco, a gente não entende bem porque essa novela faz o sucesso que faz no mundo inteiro.
       Claro, ela tem uma história muito firme, tinha um elenco de novelas muito bom, a adaptação do Gilberto Braga é perfeita, a direção do Evaldo dos Santos, e depois do Milton Gonçalves, também é perfeita. Tudo certo, e até hoje ela faz muito sucesso, mas principalmente no Leste Europeu, na China e em Cuba. Porque ela trata de dois temas fantásticos, o amor e a liberdade, e se você pensar um pouco, primeiro no Leste Europeu e na China, existe um comunismo que foi imposto, não foi expontâneo, com exceção da Rússia, já em Cuba o socialismo foi uma conquista, foi a única maneira que o povo teve para se libertar da escravidão americana, pois o país era um "cassino dos EUA", eram tratados como escravos. O sucesso da "Escrava Isaura" em Cuba foi isso, a liberdade, aquele tratamento dos escravos, eles se viram retratados nisso.
       E foi um sucesso na América Latina inteira. Eu, por causa de "Escrava Isaura", fiz uma novela em espanhol na Venezuela e mais três filmes. Hoje eu vejo aquilo com um olhar muito menos crítico, já fazem 26 anos. Eu olho e acho que é outra pessoa, não sou eu, já mudei muito. É engraçado, eu acho ótimo, pois na época nós nem entendíamos muito bem o sucesso que a gente fazia, não soubemos aproveitar o sucesso da novela, a não ser por coisas esporádicas, uma novela ali, um filme aqui etc. A gente não soube aproveitar no todo. Agora, tem uma coisa que eu acho fantástica: todo o elenco de "Escrava Isaura" foi cortado do vídeo. Por quê? É o sistema, não interessa que o empregado seja mais importante que o patrão. E aí foi uma queima de arquivo também, e a gente volta no Pinter (risos).

Bazarcultura - Com isso, agora você só pensa em trabalhar em teatro, ou se surgir um projeto bom na TV você pode atuar?
Falco - Não, não. Eu fiz uma produção independente agora em Brasília sobre o centenário do Juscelino Kubitschek, interpretei um deputado não-corrupto (risos). Foi uma experiência interessante porque, além de estar contracenando com alguns atores conhecidos também convidados, conheci atores que eu nunca tinha visto, lá de Brasília, e ótimos atores, gente que não está na mídia mas que são atores fantásticos.

Pergunta - No cinema também você participou do "Padre e a filha do carrasco", não é?
Falco - Sim, mas aquilo eu quero esquecer (risos). Eu fiz também uma participação nesse filme que passou agora, "Sonhos Tropicais". No cinema também eu atingi um ponto com um filme fantástico chamado "Coronel Delmiro Gouveia" (1977), e depois uma participação no "Pixote" (1980). Enfim, essas coisas me interessam fazer, as outras não porque o cinema te deixa muito fora, você não sabe o que está fazendo, a não ser que você faça um protagonista e tenha todo o filme na cabeça. Eu gosto de fazer, eu gosto muito de exercer a profissão, gosto muito de estar em atividade.
       Ontem, inclusive, tinha um senhor lá em Botucatu (a peça também esteve na cidade em 13 de junho) que absolutamente não entendeu a peça, aí quando eu expliquei para ele algumas coisas, ele disse, "ah é, é verdade..." (risos). E depois me fez uma pergunta que eu achei muito estranha, e até não respondi direito por achar que não valesse a pena, ele disse, "você com a experiência que você tem, por que você optou em fazer esse Pinter?". O que você vai responder?! Nada. Depois eu disse para ele, "você conhece Londres? Conheço. Você conhece o quê? O Big Ben? O National Gallery? E vá lá. Mas não conhece a periferia de Londres, não sabe como é que vive aquela gente." Se fizermos uma comparação com a periferia brasileira, Londres é muito pior porque é mais velha, tem muito mais tradição.

Pergunta - E você Kito, com relação ao cinema, você fez "Pagu", um filme bem emblemático. Você tem outros projetos nessa área?
Junqueira - Fiz "Pagu", fiz "La Lona" (1995), que inclusive foi primeiro filme brasileiro a entrar na era da Internet. Eu gosto muito de fazer cinema, o problema do cinema brasileiro é que ele ainda não é uma indústria, é na realidade uma coisa muito artesanal. Você pega os EUA, é uma indústria de bilhões, não é nem mais milionária. É uma pena que no Brasil ainda não se tenha descoberto esse filão. Eu considero qualquer tipo de arte o embaixador de qualquer país, não que os americanos estejam fazendo arte, estão fazendo cinema e divulgando uma cultura que eles não têm, mas, enfim, divulgam seu país. Eu gostaria muito mais de fazer cinema, fui convidado várias vezes, mas os roteiros que chegaram na minha mão, realmente... (faz uma careta) naquela época, inclusive, em que se fazia muito pornochanchada. Eu não tenho nada contra, é só uma questão...
Falco - Eu fiz umas vinte (risos).
Junqueira - Eu não tenho nada contra, é só uma questão de opção, não me sentia à vontade para fazer. Achava muita besteira, muita bobagem, não quis fazer. Se estive muito duro, eu faria. Eu lamento, acho que o cinema brasileiro deveria entrar na era indústria, ele é muito artesanal, os produtores sofrem muito. Aí têm os pacotes que chegam do exterior e as salas são obrigadas a exibir. Você poderia ficar com um filme de grande sucesso por cinco, seis, dez meses, mas não, acaba ficando 2, 3 semanas por causa de todo um dumping internacional.
       Na realidade, como o Rubens falou, é muito fascinante exercer a profissão, não importa o veículo. Eu adoro fazer rádio, adoro fazer cinema, adoro fazer televisão, adoro fazer teatro. É claro que o teatro é a pátria do ator, é onde ele se aprimora, porque você pode fazer todos esses veículos sem ator, no teatro não, sem ator não tem teatro. Agora, é muito mais fascinante quando você propõe uma comédia de qualidade, um drama com qualidade, um suspense, enfim, e eu acho que isso a nossa peça tem. Você tem humor, suspense, o absurdo, a emoção, você tem o conflito humano, o Pinter nesse aspecto é muito sábio, e montá-lo hoje, que é considerado o maior dramaturgo vivo do mundo, para nós atores é um grande desafio, porque é um autor dificílimo para ser representado, ele é cronométrico, matemático. O nosso espetáculo, por exemplo, tem uma hora de duração e um dos grandes elogios que a gente sempre recebe das pessoas é que parece ter passado apenas quinze minutos, meia hora, fica o desejo de mais. Não tem elogio melhor do que as pessoas saírem do teatro querendo mais, porque de repente você fica uma hora e parece um século e meio sentado na cadeira, com o Pinter não. E no "O Monta Cargas" ele estabelece um jogo com a platéia, são várias pistas, com um final absolutamente surpreendente, que até hoje ninguém acertou. Por isso, é um espetáculo que você tem que estar atento.
       A peça se passa nos anos 50 e nós fizemos ela toda climatizada, tanto que o nosso figurino são aqueles ternos de risca de giz, pois são gângsters, são assassinos. Há momentos de absurdos em que eles ficam abismados, emocionados, ao saberem que uma garotinha matou um gatinho, mas talvez tenha sido o irmão que tenha jogado a culpa nela. Eles acham isso um absurdo. Ou, o personagem também não tem nenhum problema em dizer que "pô, o nosso último serviço você viu? a mulher se esfacelou toda, metade pra cada lado." Então, o Pinter brinca muito com a sua imaginação, e lembra aqueles filmes noir, da época da espionagem, em que você tinha que prestar muita atenção nos detalhes, e que hoje nós estamos muito desacostumados. A televisão, o cinema, vários espetáculos, te dão tudo muito pronto, não exercitam o seu raciocínio, a sua imaginação, e fundamentalmente a sua atenção.



Bazarcultura - Você é fã de filmes de gângsters?
Junqueira - Eu adoro. Não perco um filme de gângsters, de máfia, conheço todos.

Pergunta - Eu acho que um grande trunfo de vocês também é a questão do cenário, a própria ambientação, e o chão ser vermelho.
Junqueira - E a iluminação do espetáculo, ele tem um chão vermelho e a luz inicial é toda vermelha, começa a cena com os dois naquele quarto. Outra coisa, ao mesmo tempo que o personagem do Rubens, o Ben, é um cara mais centrado, que está mais tempo na organização, é um criminoso mais velho, ele que recebe a ordem e transmite, o meu personagem, o Gus, é mais inquieto, ele está questionando, está sentindo que alguma coisa não está rolando bem, ele questiona o último assassinato, e na realidade todo mundo sabe quando você questiona muito o sistema e tem muita informação, você passa a ser um arquivo muito perigoso. É este jogo que se estabelece com a platéia. Eu particularmente, e falando pelo Rubens também, acho muito fascinante. E o Pinter brinca com você, há momentos, por exemplo, em que nós paramos em cena, e são pausas homéricas, há um silêncio enorme, uma característica do Pinter. Isso, para você estar no palco, você tem que estar tão inteiro, porque você precisa segurar a platéia, e ela fica esperando acontecer, cria-se o suspense. E, de repente, cria-se uma gargalhada, e no meio dela, de repente, vem uma porrada, uma pancada. Esse jogo é que é fascinante e intrigante no Pinter. Claro, não é um espetáculo abstrato, não é um teatro do absurdo, não é nada disso, tem um começo, meio e fim, só que ele tem pistas e um final surpreendente.
       Falco - A gente percebe a compreensão da platéia quando tem um riso baixo. Não é gargalhada, é um riso baixo que comunica a platéia com a gente.
Junqueira - É um espetáculo que na década de 60, 70 ou 80, o público estava muito mais preparado. Com esses adventos todos dos meios de comunicação, com essa lavagem cerebral toda, há pessoas que nós têm agradecido muito e isso para nós é um elogio. Montar um espetáculo com tanta dignidade e com tanto teor dentro desse espaço cultural ridículo que nós estamos vivendo hoje. Estamos sendo indicados para o Prêmio Shell, uma produção impecável, estreamos um espaço novo em São Paulo, e agora quero voltar para São Paulo e fazer um temporada popular também, porque merece. Sobre isso, dizem que o preço no teatro no Brasil é muito caro, na realidade não é muito caro, o teatro do Brasil é o mais barato do mundo, acontece que tudo é muito caro para você fazer teatro no Brasil, principalmente a mídia. Você vai colocar um tijolinho num jornal de grande circulação nacional, você paga mais do que o custo do espetáculo. As pessoas ainda têm uma mítica com o teatro em achá-lo muito caro, na verdade hoje o teatro está custando uma arquibancada ou uma cadeira numerada de futebol, é um problema cultural ainda.
       E quando você faz um espetáculo mais barato economicamente e dizem que as pessoas não gostam, querem esse besteirol todo que está aí, não é verdade, tanto que públicos de um poder aquisitivo menor tiveram uma receptividade enorme com o nosso espetáculo. Dizer que o povo quer mediocridade, esses reality shows que estão aí, não é verdade porque você não veria 100 mil pessoas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para ouvir uma orquestra filarmônica, ouvir o Zubin Mehta, clássicos. O que falta no Brasil é exatamente isso, você proporcionar às pessoas menos favorecidas uma oportunidade.
       O espetáculo preenche, é muito prazeroso para nós fazermos, não parece uma hora para nós, parecem cinco, porque como ele é muito matemático, não dá para a gente vacilar um minuto, inclusive porque ele tem um texto de cenas muito parecidas. Você pula uma deixa e acaba pulando a cena toda, e uma cena a menos pode representar dez minutos a menos no espetáculo. A linguagem é muito simples, agora a trama não. São passadas dicas e se você não prestar atenção você dança.
       Durante muitos anos no Brasil, se intelectualizou muito Shakespeare. "Porra, porque Shakespeare, não sei o quê!" Aí descobriram que Shakespeare era o teatro mais popular que tinha. Ainda no Brasil, se tem uma mística em torno do Pinter que ele é um puta intelectual. O Pinter é um debochado, um grande gozador. Ele faz você fazer uma reflexão sobre os conflitos humanos com um puta de um humor. Não é um espetáculo intelectualizado, ele é difícil sim para os atores fazerem, por que ele tem um requinte de interpretação que exige muito. Porém, para o público é um mamão com açúcar. Só os grandes atores montam Pinter porque é um grande desafio. Eu demorei trinta anos para montar o Pinter na minha carreira, porque não me achava preparado para isso. E quanto mais eu faço o espetáculo, mais eu descubro a profunda gozação que ele faz, ele tira um grande sarro de uma relação conflituada.

Pergunta - Kito, eu vi um bate-papo na Internet com você outro dia, no qual você dizia que hoje achava como novos talentos a Cláudia Abreu e o Murilo Benício. Eu gostaria de saber por quê?
Junqueira - A Cláudia Abreu, dessas atrizes novas que eu pelo menos tive a oportunidade de acompanhar um trabalho, eu considero ela uma atriz extremamente talentosa. Claudinha Abreu, inclusive não conheço ela pessoalmente, mas ela é muito talentosa, desde o primeiro trabalho que eu vi dessa menina eu acho isso, e foi na televisão, não foi no teatro, depois que fui ver ela no cinema. Ela é muito talentosa, muito consciente daquilo que ela faz. E o Murilo, eu vi um trabalho dele, a uns três, quatro anos atrás, numa minissérie, na qual ele fazia um cara meio louco. Você percebe que ele é um menino, que se for muito bem direcionado, ele tem muito para dar. Você nota o talento dele, o interesse, a disciplina, o prazer que ele tem de estudar e montar o seu personagem.
Falco - E o Murilo tem uma coisa que é muito difícil você encontrar em atores latino-americanos, você encontra nos americanos muito, que é a força para ser o protagonista sempre, ele tem uma personalidade muito marcante. Ele tem aquela coisa do cinema dos anos 40, 50, aqueles atores Gary Cooper, Cary Grant, tinham. Eles eram sempre eles mesmos, mas tinham sempre a característica do personagem.
Junqueira - O ator latino, de uma maneira geral, é muito passional. Você pega, por exemplo, o Antonio Banderas, ele foi para Hollywood mas continua aquilo (faz gestos exagerados com as mãos). Eu acho que, independente de você ser latino, nórdico, anglo-saxão, seja o que você for, você tem que ter uma linguagem universal da sua arte. Isso sempre foi uma preocupação minha, por exemplo, desde quando comecei a estudar teatro na Escola de Artes Dramáticas de São Paulo, eu não perdi um filme do Marlon Brando, que é o meu grande ídolo, aliás isso é unânime entre os atores, porque estamos falando de um gênio, é outra coisa. Eu assisto um filme do Marlon Brando, qualquer coisa que ele faça, pelo menos umas dez vezes, primeiro para assistir o filme, depois para estudar ele. Você descobre coisas do Marlon Brando e fica se perguntando, de onde ele foi tirar isso? Filmes, por exemplo, que ele brinca com o gestual, em que primeiro ele aponta e depois ele fala. Então, como eu estou conversando com você, ele já adianta o braço aqui porque imediatamente ele vai se referir a isso. Essa linguagem universal, acho que poucos atores no Brasil tem. O Rubens tem, ele tem até uma vivência internacional disso, mas são poucos os atores latinos com isso. Eu acho que eu tenho, sem nenhuma falsa modéstia, esse menino, o Murilo Benício, tem, a Claudinha Abreu. São pessoas que com o tempo também vão amadurecendo essa técnica, e é isso que é legal, você ter uma técnica universal, não ficar só naquela coisa de grande rompantes mexicanos.

Bazarcultura - Nessa entrevista, foi interessante perceber que a personalidade de vocês de certa forma bate também com a dos personagens da peça. O Rubens, é o gângster/ator veterano, calejado, e o Kito o inquieto, mais jovem, questionador.
Junqueira - Quando eu decidi fazer o Pinter, decidi produzir, a primeira pessoa que me veio na cabeça foi o Rubens. Não só porque somos amigos a mais de vinte anos, já trabalhamos em novelas, já dirigi ele em novelas, mas nós nunca tínhamos feito teatro. Mas ele me veio na cabeça por causa da química, o grande segredo do sucesso, tanto no teatro, televisão, ou cinema, é a escolha do elenco. Claro, você precisa ter um grande roteiro na mão, um grande texto, mas você tem que encaixar as peças certas. Evidentemente, se eu fizesse com outro ator, independente da qualidade, não estou julgando, talvez não desse tão certo esse casamento por uma questão de química. Então, eu precisava de um sujeito que tivesse uma ótima química comigo, se desse super-bem comigo, e ao mesmo tempo um grande ator com uma característica mais centrada. Eu tenho uma característica muito forte, sou muito inquieto. O Rubens é mais quieto. Assim, eu acho que o grande segredo é você pinçar o elenco.




(Matéria realizada para o site Bazarcultura)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Classe C alcança 50,5% da população brasileira

A classe C, também chamada de classe média, atingiu 50,5% da população brasileira no ano passado. Foi o que revelou ontem a FGV (Fundação Getulio Vargas), em um estudo que analisou a última Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio).

A classe C, com renda entre R$ 1.126 e R$ 4.854, chegou em 2009 a 94,9 milhões de brasileiros. “Isto significa que a nova classe média brasileira pode decidir uma eleição sozinha e passa a ser a classe com maior número de consumidores”, afirmou Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV  e coordenador do estudo “A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres”.

No ano passado, o crescimento da renda média da população brasileira foi de 2,04%, segundo a Pnad, ano em que o PIB (Produto Interno Bruto) decresceu 0,2%. Porém o aumento da renda da classe C foi de 7,29% no mesmo período.

Outro indicador importante de evolução da renda é o índice de Gini, que mede a desigualdade de distribuição de renda sendo a igualdade zero e a máxima desigualdade 1. O índice caiu no ano passado para 0,5448, o menor desde a década de 1960. Em 2008, o Gini foi de 0,5486.

Segundo a FGV, a evolução recente da classe C começou ainda em 1994, com o Plano Real, ano em que a classe D/E era a maioria e representava 62,1% da população. A classe C tomou a dianteira entre todas no Brasil no ano de 2007.