quinta-feira, 18 de novembro de 2010

‘Cenário no Brasil mostra desindustrialização’

Em entrevista ontem em São Paulo, um dos principais diretores da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirmou que o país passa por um processo de desindustrialização.

Na apresentação do  INA (Índice de Nível de Atividade) de setembro, Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, afirmou que a indústria paulista registrou queda de 0,1% no mês passado ante agosto, na série com ajuste sazonal. Sem a correção, a queda foi de 0,4%.

“O país vive um processo de perda relativa da indústria na formação do PIB [Produto Interno Bruto] e na geração de emprego”, comentou.

As horas trabalhadas na produção e as vendas reais tiveram aumento no mês passado, de 0,2% e 1,2%, respectivamente. No entanto, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada  registrou retração de 0,8%, passando de 82,5% em agosto para 81,9% no último mês.

Guerra /Paulo mencionou como um dos principais fatores para a desindustrialização a guerra cambial que o mundo atravessa. Os principais atores nesse processo são a China, que mantém a política de desvalorização agressiva do yuan para estimular suas exportações, e os EUA, que ainda afetado pela crise financeira mundial não consegue deixar o dólar forte no resto do mundo.

O real em relação do dólar, por exemplo, ontem fechou a  R$ 1,714, em queda de 0,46%. No ano, o dólar registra queda de 1,66%.

Internamente, o Brasil está com uma demanda aquecida de consumo, mas com o câmbio desfavorável a indústria nacional vem perdendo espaço para as importações.

“Nunca a indústria brasileira enfrentou tanto risco como agora”, alerta Paulo Francini, que também cobrou atenção especial do próximo presidente sobre essas questões, qualquer deles que seja eleito.

sábado, 6 de novembro de 2010

Santander busca Brasil para crescer mais

O presidente mundial do Banco Santander, Emilio Botín, 72 anos, participou na manhã de ontem, em São Paulo, da cerimônia de integração das marcas no Brasil, extinguindo a identidade visual do antigo Banco Real, comprado no fim de 2007.
A partir de agora, as antigas agências do Real passam a ter as fachadas vermelhas e o logo do espanhol Santander. A unificação das operações entre os dois bancos também já está quase encerrada – cerca de 95% dos serviços disponibilizados pelo banco já podem ser realizados nas redes do antigo Real e no Santander.
Apenas algumas transações continuarão ainda restritas às agências de origem do cliente, como crédito rural e leasing. Segundo o presidente do Santander Brasil, Fábio Barbosa, as operações estarão todas ligadas em fevereiro. “Foi uma opção por uma mudança gradual, para o mínimo de transtornos aos clientes. Em fevereiro, começarão as mudanças dos números das contas”, disse.
O Santander realizou testes dos novos sistemas integrados com mais de 100 mil clientes no interior de São Paulo. Foram feitos pilotos em Limeira, Piracicaba, Americana e Rio Claro.


Estratégico/Em entrevista coletiva,  Botín falou da filosofia de atuar como banco comercial em países emergentes e desenvolvidos com foco nos clientes e destacou a posição principal do Brasil. “O Brasil já representa 25% dos nossos resultados gerais no mundo. O Reino Unido vem em segundo, com 18%, e a Espanha em terceiro, com 17%”, explicou.
No fim do mês passado, o Santander anunciou um   lucro líquido  no mundo dos nove primeiros meses do ano de
6,08 bilhões de euros (R$ 14,5 bilhões), queda de 9,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o Santander Brasil,  nos nove primeiros meses, teve alta de  39,5%, chegando a
 R$ 5,464 bilhões.
 Na Espanha e em grande parte da Europa, o banco ainda sofre com a crise financeira mundial. A instituição financeira foi obrigada a reservar  472 milhões de euros (R$ 1,126 bilhão) gerados por provisões. A reserva faz parte de regras espanholas, que foram endurecidas depois da crise para tornar os bancos mais sólidos.
Esses números fazem Botín considerar o Brasil altamente estratégico. O grupo Santander Brasil conta hoje com 3.623 agências, sendo que 2.035 são provenientes do  Real. Ele afirmou que pretende continuar crescendo com sustentabilidade  e não descartou “aproveitar oportunidades” para outras aquisições bancárias. O banco planeja abrir 600 agências até 2013 no país. Neste ano, serão abertas 120 agências.
HISTÓRIA
 O Santander foi criado  em 1857, na Espanha. No Brasil, a chegada foi em 1982. A partir de 1997, os espanhóis compraram cinco bancos no Brasil, entre eles o Banespa, durante leilão em 2000.  Hoje, o Santander é o terceiro maior banco privado do Brasil.


Espanhol diz acreditar em governo Dilma
Os executivos do Santander disseram ontem acreditar que o futuro governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT) deve ter êxitos. “Creio que o novo governo seguirá desenvolvendo o país. Em pouco mais de uma década, o Brasil deve se transformar na quinta maior economia do mundo”, disse Emilio Botín.
Ele elogiou o sistema financeiro exemplar do Brasil e a “lição” que o país deu ao mundo ao sair rapidamente da crise.
 Fábio Barbosa também fez elogios ao novo governo, mas, ao ser questionado sobre os motivos dos juros que o Santander cobra no Brasil serem maiores do que os praticados em países ricos, ele explicou que ainda são necessários avanços. “Aqui, há tributação na intermediação financeira e os bancos precisam fazer elevados depósitos compulsórios ao governo. Além disso, o Brasil precisa de um cadastro positivo. Os juros cairão quando nossas características foram as mesmas do exterior”, comentou.
 Emilio Botín também veio ao Brasil assistir ao GP da Fórmula 1, evento que o banco espanhol é um dos principais patrocinadores.


Opinião
Luis Miguel Santacreu,
analista de instituições financeiras da agência de risco Austin Rating
As recentes fusões e aquisições bancárias no Brasil parecem já consolidadas. Não são mais esperados grandes movimentos, a não ser se forem negociados os bancos de governos estaduais.
Esse processo criou no Brasil uma forte concentração bancária, principalmente no varejo. Mas são instituições sólidas, que respeitam normas rígidas do BC (Banco Central) e tem muita liquidez. O lado prejudicial pode ocorrer no abuso do poder econômico, como nas tarifas excessivas. Nesse caso, o BC poderia regulamentar melhor o setor.
 Enfim, os bancos brasileiros devem continuar crescendo muito nos próximos anos. O Brasil precisa de muito crédito para sua economia: obras de infraestrutura, consumo, ampliação da produção das empresas, aquisição de imóveis e carros, tudo isso necessita do crédito dos bancos. O país tem ainda muitas carências que os bancos vão ajudar a suprir.