sexta-feira, 7 de maio de 2010

Consumo da base popular ultrapassa o da classe alta


A estabilidade e a trajetória de crescimento da economia nacional finalmente estão levando milhões de brasileiros para o mercado de consumo.

A expectativa para 2010 é de que o consumo popular já ultrapasse  o das classes altas.  É o que mostra o estudo Tendências da Maioria, realizado pelo Data Popular com 2.093 entrevistados em todo o Brasil.

De acordo com a pesquisa, as classes A e B devem consumir neste ano um total de R$ 545,6 bilhões. Já para as classes C e  D, o número esperado é de  R$ 808,8 bilhões. Se for incluída a classe E (R$ 25 bilhões), o total de consumo popular chega a R$ 833,8 bilhões.

O Data Popular é um instituto de pesquisa voltado para as classes C e D e E. Seu sócio-diretor, Renato Meirelles, afirma que o grande destaque para 2010 deve ser a classe D, que reúne cerca de 70 milhões de pessoas com renda de 1 a 3 salários mínimos (R$ 510 a R$ 1.530).

Com R$ 381 bilhões para gastar em 2010, a expectativa é de que a massa de renda da classe D ultrapasse a da classe B ainda este ano – as 20 milhões de pessoa da faixa B, com renda entre 10 e 20 salários mínimos (R$ 5,1 mil a R$ 10,2 mil), deve ter para gastar, neste ano, um total de R$ 329,5 bilhões. A estimativa de número de pessoas  por classes é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dados de 2009.

“A população da classe D ainda é maior que a das classes A e B juntas, o que já é um bom indicativo do potencial de consumo. Esta é a faixa social que representa a transição da baixa renda para uma vida melhor, pois absorve um grande número de brasileiros de saída da linha da pobreza e impulsiona o crescimento da classe média”, comenta Renato.

O Data Popular afirma que, neste ano, o consumo dos emergentes deve se direcionar para os bens duráveis, como TVs de plasma, computadores, geladeiras e automóveis, e para serviços como viagens aéreas e cursos.

Emprego e renda são as explicações
O economista e conselheiro do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia), Pedro Afonso Gomes, analisa que a estabilização de preços, sem dúvida, foi um fator importante para aumentar o arco dos consumidores potenciais – mas, no caso brasileiro, não foi o suficiente. “Até o início de 2003, o nível de emprego e da atividade econômica reduziu-se significativamente em relação ao período pré-Real, com o encerramento das atividades de muitas empresas. Nos últimos sete anos, houve uma elevação significativa e sustentada do emprego e da renda, criando postos formais e informais, o que permite ao empresariado pensar a longo prazo e aos trabalhadores adquirirem bens de consumo e duráveis antes inacessíveis”, comenta.

No caso dos itens essenciais, Pedro aponta que as classes C, D e E sempre os consumiram, mas produtos de qualidade ou preço inferiores. A entrada das classes C, D e E no mercado consumidor fez com que a maior escala produtiva permitisse menores preços para todos. “Nesse sentido, a elevação do padrão de vida dos mais pobres ajudou também a reduzir o custo de vida do menos pobres”, opina.


Preço e marca definem compra da classe popular
O operador de empilhadeira Hamilton Ramos da Cruz, 53 anos, é solteiro e mora sozinho. Como em tantas outras vezes,  nesta semana foi a um supermercado  para comprar seu almoço.

Pela praticidade, ele optou por uma lasanha pronta de R$ 6,90. “Na correria e porque moro sozinho, costumo fazer isso. Mas levo uma marca saborosa, já não pesa tanto no bolso”, conta.

Esse é o padrão de consumo que a pesquisa Data Popular aponta: a classe D tem aspirações de consumo realistas. São  famílias emergentes que fazem o orçamento render, buscam crédito e conseguem planejar a compra de bens duráveis, como eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis, por exemplo. Essa mesma preocupação com o custo-benefício vale para os demais produtos, de alimentos a roupas, já que esse consumidor não pode errar na hora da compra.

O sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles, afirma que, justamente por isso, o fator preço tem um peso importante, mas cada vez mais relativo “Ele já entende que as marcas podem garantir a qualidade do produto, mas continua orgulhoso de buscar promoções.”

A aposentada Maria Izabel Mafra, 65, é outro exemplo. Morando com dois filhos e um neto, ela  prefere fazer suas refeições, mas não abre mão das marcas. “Para mim, sai mais barato cozinhar e procuro  avaliar as marcas. Tem muito barato que sai caro, a comida não rende ou é péssima”, fala.

Para o Data Popular, alguns segmentos da indústria, do comércio e dos serviços já perceberam a importância do consumidor emergente – exemplo é o lançamento de  produtos e alimentos em embalagens familiares mais econômicas. No mesmo caminho, a rede Walmart anunciou neste ano o investimento de R$ 2,2 bilhões no Brasil para abrir 110 lojas, a maioria voltada para a classe popular, como a bandeira TodoDia.

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