domingo, 28 de outubro de 2007

Inocência e loucura


A minha impressão dos Beach Boys sempre foi apenas a de um grupo vocal com letras falando de surf e garotas e músicas bacaninhas com o que seria o príncipio da surf music.
Mas também já li e ouvi falar a respeito de um disco fantástico deles que é tido como uma lenda da música pop: "Pet Sounds" (1966). E, claro, outros mitos incríveis e tristes a respeito do líder e cérebro da banda: Brian Wilson.
Essa semana finalmente ouvi inteiro "Pet Sounds". É simplesmente perfeito!
É complexo musicalmente com arranjos belíssimos, riqueza instrumental com violinos, piano, oboé, guitarra de 12 cordas, entre outros, os vocais maravilhosos do grupo (além de Brian, também cantam seus irmãos Carl e Dennis Wilson, seu primo Mike Love e seu amigo de colégio Al Jardine) e letras falando do amor em suas várias formas.
Só esse tesouro lírico já vale o disco, mas a sua história de gravação é tão ou mais fantástica.
Brian Wilson é conhecido como um gênio da música. Ele é surdo de um ouvido e baixista e pianista brilhante. De modo semelhante à história de Mozart, o pai de Brian, Murry Wilson, educou com mão de ferro seu filho prodígio para ser um famoso músico e compositor.
O pai acabou virando empresário de Brian e do resto da banda, que nos anos 60 realmente se transformou num grupo de enorme sucesso no mundo pop tocando inocentes músicas sobre surf e garotas (quem não conhece Surfin' Safari?).
Mas Brian, com um eterno desejo de auto afirmação, na certa ensinado pelo pai, queria mais, queria revolucionar a música. Aí começam as lendas e verdades sobre ele.
Nessa época os Beatles a cada disco se superavam e reinventavam a música pop. Brian chegou a declarar sobre "Rubber Soul" (1965): "Percebi que cada canção tinha um grande acabamento e que todas eram muito estimulantes e resolvi trabalhar em novas canções. Eu me senti obrigado a competir com os Beatles."
Essa competição de Brian para muitos foi uma obsessão insana. Por conta disso, alega-se que ele entrou em depressão e pediu para abandonar uma turnê dos Beach Boys no Japão. Em 1965, seu único objetivo seria se isolar do estrelato, até certo ponto simplório e que ele mesmo e sua família havia construído, e criar algo totalmente novo e revolucionário.
Brian conseguiu essa alforria de seu pai e da gravadora e foi construir o mítico "Pet Sounds". Praticamente seu único parceiro foi o letrista Tony Asher. Juntos criaram lindas canções sobre o amor idealizado (Wouldn’t It be Nice), a imperfeição das das relações humanas (You Still Believe in Me), sobre o amadurecimento e os efeitos da solidão (That’s Not Me), sobre a perda da inocência, o amadurecimento e o fim do amor infantil, idealizado (Caroline No), entre outras maravilhosas. Foram gravadas duas músicas instrumentais também, Let’s Go Away for a While e Pet Sounds, de riqueza musical incrível.
Se era para competir com os Beatles, "Pet Sounds" realmente é um disco ainda mais maravilhoso do que "Rubber Soul".
George Martin, o lendário produtor dos Beatles, declarou: "Quando eu ouvi pela primeira vez, fiquei estupefato e comecei a perguntar o que era aquilo, pois era fantástico! E quando vamos ficando mais velho, a tendência é adotarmos uma postura cada vez mais comedida com as novidades. Sem ele, jamais teríamos feito Sgt. Pepper's."
Paul McCartney afirmou na época que uma das faixas de "Pet Sounds", God Only Knows, era a melhor canção popular já composta e a única que o fez chorar.
"Pet Sounds" foi um sucesso imediato e absoluto de crítica, mas não vendeu tão bem. E como todo mundo sabe, em 1967 os Beatles lançaram o grande "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Diz mais uma lenda que Brian teria ficado arrasado com esse "contragolpe" do grupo britânico e entrado em depressão de vez por não conseguir criar algo ainda melhor do que "Pet Sounds".
Em depressão profunda, Brian virou dependente de drogas pesadas. Os Beach Boys nunca mais foram os mesmos (a não ser com o lançamento em compacto da perfeita música Good Vibrations) e sua carreira solo teve altos e baixos (mais para baixo do que para cima).
Na minha visão ignorante da música, sem dúvida os Beatles ganham dos Beach Boys, mas só na quantidade porque fizeram três obras-primas (Revolver, Rubber Soul e Sgt. Pepper's). Já na qualidade empatam com os Beach Boys.
E também querendo ser advogado do maluco do Brian Wilson, pelo que sei ele carregava os Beach Boys nas costas, os outros integrantes eram vocalistas excelentes, mas só isso. Já os Beatles tinham dois gênios (Paul e John), um guitarrista incrível (George) e o baterista mais legal do mundo (Ringo). Competição totalmente desigual.

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