segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Jazz, rock, bolso vazio e uma piscina

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Por aqui o iconoclasta guitarrista norte americano Frank Zappa (1940-1993) não é lá muito conhecido. É bem razoável entender porque - ele definitivamente não foi um compositor e músico convencional, desses que o rádio e a TV idolatram por terem um rostinho bonito ou um refrão bobinho.
O bigodudo Zappa fazia grandes músicas, tanto pelos vários minutos que duravam como pela fusão com vários elementos da música popular e erudita. O fã de outro maluco da música, o russo Stravinsky, buscou criar músicas que são consideradas pioneiras de novos estilos.
Um de seus trabalhos foi “Hot Rats” (1969), que está completando 40 anos. Ele já havia lançado discos fantásticos como “Freak Out!” (1966) e “We´re Only In It For The Money” (1968) ao lado da banda que liderava, a Mothers Of Invention. Mas Zappa estava duro. Todo mundo elogiava seu trabalho, mas comprar que é bom, necas.
Foi aí que ele tomou uma decisão sábia: fazer um trabalho menos comercial ainda. Dizem que ele foi inspirado por uma história que presenciou com a lenda Duke Ellington, um dos deuses do jazz. Zappa teria presenciado Duke Ellington implorando um adiantamento de meros 10 dólares para os executivos da Reprise, a gravadora deles, e não ser atendido. Revoltado, Zappa mandou a gravadora catar coquinho e foi criar um trabalho novo por conta própria.
Ele foi atrás de grandes músicos - os violinistas Don Harris e Jean-Luc Ponty, John Guerin e Paul Humphrey na bateria, o tecladista e saxofonista Ian Underwood e o amigo Don Van Vilet, conhecido como o vocalista Captain Beefheart. Juntos criaram o “Hot Rats”, disco quase totalmente instrumental. A exceção é a faixa “Willie The Pimp”, com os vocais característicos e chapados de Captain Beefheart.
As seis longas faixas do disco foram compostas por Zappa. Ele não gostava de jornalistas e de suas definições simplórias, mas esse foi um trabalho pioneiro da fusão do rock com o jazz. Os excelentes músicos tocam como numa jam, improvisando e muito soltos.
“The Gumbo Variations”, por exemplo, é um rhythm and blues com mais de 16 minutos de duração, uma experiência musical sensacional com Paul Humphrey e Ian Underwood em solos fabulosos. “Peaches en Regalia” é, vamos dizer assim, o hit do disco, muito presente em qualquer coletânea de Zappa, muito furiosa e feliz ao mesmo tempo. “Willie The Pimp” tem “só” o vocalista visceral Captain Beefheart e um solo de sete minutos de Frank Zappa que faz inveja a qualquer guitarrista vivo hoje no planeta Terra.
Toda essa doideira, segundo a banda, foi gravada em um gravador “caseiro de seis canais”, sendo que no meio musical alguns afirmam que este é o primeiro disco gravado em seis canais a ser lançado comercialmente. O comum eram apenas quatro.
Essa criatividade chapada, sem grana e caseira está na arte do disco também, com fotos da banda descabelada e largada. Mas vale dizer que a foto da capa dos ‘Ratos Quentes’ não é o Zappa, como eu e muita gente pensava. Não é um cabeludo, mas uma cabeluda, Christine Frka, uma das integrantes do grupo de groupies que seguia Zappa e sua banda, as GTOs – Girls Together Outrageously (Garotas Juntas Escandalosamente). A foto mostra Christine esperando à surdina dentro de uma piscina suja e abandonada em uma mansão de Beverly Hills. Sugestivo?

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