segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Insetos vão desvendar crimes em Bauru

A cena de um crime contém muitos elementos que podem ajudar a contar a história de uma ocorrência e muitas vezes mostrar seus reais culpados. Até um inseto pode ajudar a elucidar um crime.
É isso que pela primeira vez na história a Polícia Civil do Estado de São Paulo vai usar. A chamada entomologia forense está começando a ser ensinada aos policiais paulistas e no Interior a região de Bauru é a primeira a ser treinada.
A entomologia forense é uma ciência aplicada que tenta determinar a data da morte, e quando for possível, a causas de morte de seres humanos através dos insetos que colonizam o cadáver. Vinte policiais da área do Deinter-4 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior-4), cuja sede fica em Bauru, estão sendo treinados em entomologia forense até o sábado, dia 10.
O delegado Licurgo Nunes Costa, diretor do Deinter-4, explica que estão sendo treinados policias diretamente ligados a investigação de homicídios. “Eles se tornarão multiplicadores dessa nova técnica. Nosso serviço de inteligência vai ser aprimorado numa área de quase 2 milhões de habitantes”, diz.
Nova postura
Segundo o delegado Licurgo, a polícia civil da região vai passar a observar com mais cuidado a cena de um crime. Detalhes que antes eram ignorados, como a presença de insetos e larvas, agora serão bem observados.
No curso que estão fazendo os policiais vão aprender a recolher os insetos e larvas, que serão enviados para análise em centros de estudos de entomologia da Unicamp (Universidade de Campinas) e da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) de Rio Claro.
Na próxima semana, mais uma turma de 20 policiais civis vai fazer o curso de entomologia forense, dessa vez para policiais que atuam na repressão do tráfico de drogas.

‘São provas mais valiosas‘
O coordenador do curso de entomologia forense, o perito criminal Edilson Nakaza, afirma que as informações coletadas com os insetos têm valor de prova numa investigação criminal. “São provas na maioria das vezes mais valiosas do que depoimentos, já que são evidências científicas”, conta.
Hoje os policiais civis de Bauru e região vão ter aulas com a maior autoridade em entomologia do país, a bióloga da Unicamp, Patricia Jacqueline Thyssen, e no sábado vão ter aulas práticas de coleta e análise de insetos e larvas em uma chácara da Polícia Civil.
Esse trabalho é um convênio entre a Secretaria de Segurança Pública e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) através da Academia de Polícia do Estado.
Segundo o delegado coordenador do núcleo de ensino do Deinter-4, Luís Henrique Casarini, no total para reforçar o serviço de inteligência da Polícia Civil estão previstos 13 cursos, como o de entomologia forense, DNA forense, identificação veicular, preservação de local, medicina legal, entre outros.

Aplicações são amplas
As aplicações da entomologia forense também são muito variadas. Além de determinar o período de tempo entre a morte e o descobrimento do cadáver com a análise de larvas e insetos, a técnica também pode ajudar no combate ao tráfico de drogas.
A maconha, por exemplo, contém vários fragmentos de insetos e de solo. Com a sua identificação é possível descobrir a origem da droga, já que determinados insetos só existem algumas áreas, como na Bolívia ou Nordeste.
Em crimes ambientais, o conteúdo do estômago dos insetos mortos também pode ser estudado para descobrir os agrotóxicos ou susbstâncias químicas presentes na região.
Em mortes dificéis encontrar a causa, Edilson Nakaza também explica que os insetos podem auxiliar. “Moscas próximas do cadáver podem, por exemplo, ser recolhidas para procurar vestígios de cocaína e pólvora”, explica.
As moscas são, muitas vezes, as primeiras a chegar ao local de homicídio. Elas preferem um cadáver úmido para as larvas se alimentarem. Já os besouros são geralmente encontrados nos cadáveres quando estes se encontram mais decompostos.

Capitão foi salvo da prisão por larvas
O perito Edilson Nakaza lembra um caso célebre na Hungria que salvou um capitão da Marinha da prisão.
Nos anos 90, ele foi incriminado por supostamente ter matado um passageiro de seu barco. O militar chegou a ser condenado a prisão perpétua.
Depois de oito anos de cadeia, o caso foi reaberto e foram analisados os vestígios do crime, entre eles as larvas que estavam no cadáver. Com isso foi provado que o morto foi assassinado um dia antes do capitão estar no barco.

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