domingo, 20 de setembro de 2009

Interior é saída para crise

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A crise financeira mundial começa a diminuir seus efeitos no Brasil e o Interior de São Paulo é uma das principais saídas para a retomada pós-crise. Esse foi um dos principais temas no 18º Congresso Brasileiro de Economia, que prossegue até amanhã no Parque Anhembi em São Paulo.

Ontem o chefe do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Yoshiaki Nakano, o ex-presidente do Banco Central (1997-1999), Gustavo Franco, e o presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), Antonio Luiz de Queiroz Silva, participaram do debate “Perspectivas da Economia Brasileira e mundial diante da crise econômica”.

Yoshiaki Nakano avaliou que a crise para o Brasil foi “importada”, isto é, começou no sistema financeiro de países ricos como os EUA e Alemanha e depois se alastrou. “O efeito que chegou até nós foi a redução do fluxo de capitais, o que gerou um pânico no setor industrial e cortes na produção”, afirma.

O grande diferencial brasileiro apontado pelo economista é que a demanda doméstica permaneceu praticamente intacta na crise. “Ao contrário da indústria, o comércio brasileiro vai muito bem”, disse.

E o consumo brasileiro tende a continuar aumentando. Ele explica que os recentes anos de crescimento acelerado do país e a queda na taxa de crescimento demográfico criaram um mercado de consumo de massa com mais de 90 milhões pessoas das classes C e D que passaram a ter poder de compra. O Interior de São Paulo é destaque, segundo a consultoria Target Marketing só em 2009 ele deve consumir R$ 257 bilhões. “O grande trunfo brasileiro é um mercado interno em expansão e o Interior de São Paulo se destaca por ter uma rede logística pronta ligando-o a região metropolitana”, comenta.

Momento novo
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Para Gustavo Franco o Brasil passa por um momento inédito, no qual seus indicadores macroeconômicos vão muito bem e o país está caminhando para mudar de nação emergente para desenvolvida. “As possibilidades de consumo cresceram muito e o futuro passou a valer muito mais. Por exemplo, em 1993 as empresas brasileiras na Bovespa valiam US$ 80 bilhões de dólares. Esse valor cresceu enormemente, hoje valem US$ 1,1 trilhão, e tende a crescer ainda mais”, aponta.

Porém, ele destaca que o Brasil não pode perder a oportunidade que se mostra. Só o aumento do consumo não será suficiente porque pode causar inflação e chegar num ponto de estagnação. Para manter e aumentar o consumo também serão necessários investimentos em infraestrutura,na qualidade de ensino, em habitação e na pesquisa na área de energia, como no etanol e na exploração do pré-sal.

Pós–crise
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Passada a crise, os economistas voltam o foco agora para o interior do Estado de São Paulo, a terceira maior economia do país. O interior de São Paulo é a grande alternativa para a economia nacional, na opinião do presidente do Corecon-SP, economista e professor Antonio Luiz de Queiroz Silva.

Ele destaca os principais motivos - o interior vive expansão econômica e industrial; possui oportunidades para todas as áreas, incluindo a economia; destaca-se pelas economias em desenvolvimento; responde a 16% do PIB Nacional; tem perfil econômico próprio devido a agropecuária, segmentos industriais e atividades terciárias; valoriza-se pelo aumento da migração de empresas para o interior e, juntamente, da migração da população; terá infraestrutura para abrigar mão de obra qualificada e melhor qualidade de vida.

Antonio Luiz de Queiroz Silva destaca que a crise não foi econômica e sim financeira. “Foi uma crise de crédito”, destaca. Ele entende que o Brasil terá a partir de agora melhores condições para crescer em relação aos outros países em desenvolvimento, “uma vez que não depende de crédito externo e apresenta melhores condições econômico-financeiras”.



Secretário de Bauru cita avanços

O secretário de Economia e Finanças de Bauru, Marcos Roberto da Costa Garcia, é um dos cerca mil economistas de todo o país que participam do 18º Congresso Brasileiro de Economia.

Como diferenciais da cidade que mostram sua força no Estado, ele citou ontem o valor adicionado, isto é, movimentação da atividade econômica. “O valor adicionado de Bauru cresceu mais que a média nacional, o que vai significar em 2010 mais repasses de ICMS”, diz.

Ele lembra que a cidade é também privilegiada na logística e com muitas universidades, o que tende a atrair para Bauru grandes investimentos.

Na região, Os 39 munícipios que a compõe têm um PIB (Produto Interno Bruto) somado semelhante ao do Paraguai inteiro, de população de cerca de 6 milhões de habitantes.

Quem afirma isso é o chefe da divisão de estudos econômicos da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), Miguel Matteo, que em dezembro apresentou com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) os valores do PIB dos municípios brasileiros referente ao ano de 2006.

Com pouco mais de 1 milhão de habitantes, o PIB da região de Bauru em 2006 era de US$ 6,5 bilhões (R$ 15,5 bilhões). “Nesse mesmo ano o PIB do Paraguai era só um pouco maior, de US$ 9 bilhões (R$ 21 bilhões), uma prova do poder econômico do Estado de São Paulo”, comenta Miguel.

Em Bauru o valor do PIB era de R$ 4,714 bilhões. A divisão por setores era de R$ 16,84 milhões na agricultura, R$ 845,91 milhões na indústria e R$ 3,295 bilhões em serviços e comércio.







Crise completa um ano
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No dia 15 de setembro de 2008, o banco de negócios Lehman Brothers, então o quarto maior dos Estados Unidos, surpreendeu o mundo ao anunciar sua quebra após um fim de semana de discussões entre governo e bancos para tentar salvar a instituição.

A falência do Lehman, de 158 anos de idade, marcou o início do período de agravamento da crise financeira que abalou o mundo e levou as principais economias a um período de forte recessão.

A crise começou quando o mercado imobiliário dos EUA passou por uma fase de expansão acelerada, com a forte redução dos juros por parte do Fed (Federal Reserve, o BC americano). O setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos: a demanda por imóveis cresceu, atraindo compradores, incluindo aqueles de baixa renda, com alto risco de inadimplência, segmento que ficou conhecido como "subprime".

A promessa de retornos altos atraiu gestores de fundos e bancos, que compraram esses títulos 'subprime' das companhias hipotecárias. Porém, a partir de 2006, os preços dos imóveis começaram a cair, e os juros a subir. Com os juros altos, a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo e a reboque o mundo todo.

No último trimestre, o crescimento de grande parte do mundo desenvolvido foi fraco e ocorreu, em boa parte, porque os recuos dos dois trimestres anteriores foram muito fortes, com várias países registrando quedas recordes.

Apesar disso, analistas dizem que o processo de recuperação já começou, ainda que grandes economias como os Estados Unidos, que teve queda de 0,3% no PIB no trimestre passado, e o Reino Unido permaneçam em recessão.

A economia brasileira voltou crescer no segundo trimestre deste ano, com alta de 1,9% frente aos três meses imediatamente anteriores, informou no dia 11 o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação a igual período em 2008, no entanto, o PIB (Produto Interno Bruto) teve recuo de 1,2%.

A alta frente ao trimestre anterior configura que o país saiu do quadro de recessão técnica, quando há duas retrações consecutivas. No primeiro trimestre, a queda foi de 1% após revisão (a leitura inicial era de queda de 0,8%), e no quarto trimestre de 2008, o recuo havia sido de 3,4% após revisão (o dado anterior era de queda de 3,6%).



Gustavo Franco critica possível candidatura de Meirelles
Há rumores que o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, dispute as eleições de 2010, provavelmente como candidato ao governo de Goiás.

Gustavo Franco defendeu ontem a liberdade que qualquer pessoa tem para se filiar a um partido político. Ele contou que se filiou ao PSDB no período que esteve à frente do BC e permanece até hoje. Mas fez uma ressalva sobre a postura do presidente do BC.

“Se filiar tudo bem, mas as especulações de que pode disputar um cargo político não são boas para o mercado. Pode haver a interpretação de que o BC passará a ter uma administração política”, disse.

Ele esclareceu que não há nada na legislação que impeça o presidente do BC aparecer como pré-candidato até março, quando aí sim teria que se desligar do cargo. Mas fez questão de deixar claro que isso pode prejudicar a política econômica do BC.

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