O avanço da classe C está fazendo as pessoas trocarem o ônibus pelo avião nas viagens interestaduais (acima de 75 km). É o que mostram avaliações da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) e de empresas de transporte rodoviário e aéreo.
Segundo a superintendente de serviços de transporte de passageiros da ANTT, Sonia Haddad, o número de passageiros de transporte interestadual de longa distância foi de 66,7 milhões no ano passado. Atualmente o órgão federal em conjunto com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) finaliza uma pesquisa ampla sobre a demanda pelo transporte rodoviário no país que vai balizar a renovação da licitação dos serviços de transporte de passageiros, prevista para o segundo semestre.
No lado do setor aéreo, o número de desembarques de passageiros no Brasil no mesmo período, por voos regulares, chegou a 66,7 milhões, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Turismo, com base em levantamento da Infraero. Ou seja, já há um empate entre avião e ônibus.
Ultrapassagem
Para o presidente da Abetar (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional), Apostole Lazaro Chryssafidis, neste ano as viagens de avião de longa distância já vão ultrapassar as de ônibus na mesma categoria.
“Somente ano passado, de acordo com informações do Secretário de Política Nacional de Transporte do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato e Silva, em apresentação no Congresso Abetar 2010, 3,5 milhões de passageiros deixaram de usar ônibus. Enquanto, o número de embarques e desembarques no transporte aéreo saltou de 115 milhões em 2009, para 138 milhões em 2010”, analisa.
Segundo ele, a previsão de crescimento dos transporte aéreo este ano é de 15%. Entre os fatores que explicam isso estão a melhora da renda do brasileiro e as companhias aéreas estão de olho nas classes C, D e até na E, ampliando condições de pagamento das passagens. Para Apostole, o transporte aéreo regional dentro do estado de São Paulo também caminha para uma demanda muito maior. “No estado de São Paulo, apesar de ter as melhores rodovias do país, temos mercado para implementar mais voos”, opina.
Abrati reconhece queda nas estradas
A Abrati (Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros) afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que realmente está havendo uma queda no transporte de ônibus no país, principalmente nas linhas de longa distância, e as empresas estão se adaptando e operando linhas mais competitivas.
Como motivos a Abrati cita o transporte pirata, que não sofre fiscalização permanente por parte das autoridades, o maior uso do carro particular e a competição do transporte aéreo na longa distância. Mas, as empresas de ônibus destacam que ainda têm muito mercado no país, pois tanto nas curtas quanto nas longas distâncias o ônibus ainda é bastante necessário, pois no período de pico, como Carnaval, Natal e feriados longos, as empresas tem condições de aumentar em mais de sete vezes a capacidade de transporte de passageiros, por ter uma frota de reserva, enquanto o avião não tem essa flexibilidade.
Aeroportos do Interior precisam de investimento
A demanda maior dos passageiros pelo transporte aéreo já impacta o interior de São Paulo. O número de viajantes nos 31 aeroportos administrados pelo Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo) subiu de 1,2 milhão em 2009 para 1,7 milhão no ano passado. Já no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, o movimento de passageiros saltou de 3,3 milhões para 4,6 milhões no mesmo período, segundo a Infraero.
Porém, há gargalos sérios que podem fazer esse crescimento desacelerar no Interior. É o que mostra a geógrafa Ana Paula Camilo Pereira, que ano passado defendeu uma tese de mestrado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) sobre os aeroportos com maior fluxo aeroviário no Interior – Araçatuba, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e Rio Preto. Atualmente, ela continua estudando o setor aéreo como doutoranda da USP (Universidade de São Paulo) e bolsista da Fapesp.
Após suas entrevistas e visitas aos aeroportos, Ana Paula afirma que a condição infraestrutural dos aeroportos apresenta-se em qualidades insuficientes para o transporte aéreo. “Marília, Presidente Prudente e Ribeirão Preto, por exemplo, não suportam mais a quantidade de passageiros que embarcam e desembarcam nos terminais”, comenta.
De uma maneira geral, ela destaca que há necessidade de investimentos públicos para melhorar o pátio para as aeronaves, as condições e o tamanho da pista, a área e a capacidade do terminal de passageiros, o número de balcões de check-in, entre outros fatores. “Os investimentos, por sua vez, estimulariam o interesse das empresas aéreas para oferecer mais rotas”, acrescenta.
Por outro lado, aeroportos como os de Sorocaba, Piracicaba e Bauru são subutilizados. Os mais usados no Interior, mesmo com suas falhas são os de Ribeirão Preto, Rio Preto e Presidente Prudente. Existe um Plano Aeroviário do estado com diretrizes de 2008 a 2027 para distribuir melhor a interligação regional aérea de São Paulo. A crítica de Ana Paula é que na prática esse plano ainda não é operacionalizado.
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